“A exaustão é a melhor amiga da mulher. Ou, sua pior inimiga”. Essa ideia me chegou depois do primeiro encontro do grupo “Maturescência & Arteterapia” que facilito junto com Lívia Penna. Entre os sinais presentes na menopausa, todas relataram exaustão. Nós, mulheres, passamos a vida olhando pra fora, cuidando da casa, filhos, plantas, bichos, férias, comida, da vida afetiva da família, das amigas, das dificuldades afetivas do parceiro… Lista infindável onde os cuidados com a gente mesmo quase não couberam. Aprendemos também, de forma menos implícita, que, se ficamos cansadas, devemos seguir em frente mesmo assim, afinal temos energia e disposição de sobra… Até uns 40 e poucos anos…
É então que uma grande mudança começa a se dar e abala todo o padrão até aqui: o corpo da mulher muda e a santa exaustão finalmente é levada em consideração. Pena que só agora. Ou nem agora, o que vai significar a entrada literal no inferno. Já estive lá algumas vezes. Não recomendo.
Tenho feito amizade com Dona Exausta, coitada, que passou uma vida toda ao meu lado sem ser vista. Seus conselhos são sábios: Descanso de qualidade; envolvimento em menos atividades; conquista de mais profundidade; ações mais assertivas; menos desperdício de energia; exercitar pedir ajuda; favorecer o envolvimento de mais pessoas nas demandas da casa, do trabalho, da vida enfim; um zelo cuidadoso com o sono; maior sensibilidade ao que entra (comida e bebida) e ao que sai (palavras) desse corpinho abençoado; proporcionar movimento ao corpo; melhor seleção das companhias e programas…
Dessa escuta sensivel vai acontecendo uma mágica: vamos nos dando conta de um espaço! Sobra espaço interno, crescemos por dentro, ganhamos território em nós mesmas. É um processo muito novo que pode ser assustador, afinal dá medo liberar a tensão pra quem viveu uma vida sob pressão. Mas vale a pena. E vamos nos apercebendo das inúmeras possibilidades guardadas nesse “vazio” antes preenchido de tensão: um tanto de coisas ainda inexploradas, e sobretudo, sonhos e desejos não realizados. Com uma boa peneirada, vai sobrar o essencial, aquilo que precisa mesmo ser feito, uma urgência da alma agora inegociável. Lívia Penna diz que a menopausa é como uma segunda adolescência. Lá, estava morrendo a menina pra dar lugar a jovem. Aqui está morrendo a mulher da ação, da produtividade, da eficiência, que se movia a partir das demandas externas, pra dar lugar a mulher madura que respeita e escuta as demandas internas, sem desmerecer as externas, mas com sabedoria e ponderação pra equilibrar dentro e fora. Finalmente.
No grupo “Maturescência & Arteterapia” pedi que cada mulher se lembrasse dos sinais mais desagradáveis vividos na menopausa e transformasse tudo isso numa imagem. O mesmo deveria ser feito com coisas boas, novos comportamentos, atitudes, habilidades que têm percebido surgir nesse período. Ambas imagens foram intensas, vulcões em erupção, fogo, rupturas mas também imagens de leveza, de plenitude e de serenidade profundas. A menopausa nos traz um mundo novo, até então inexplorado, que pode nos direcionar a um espaço de sacralidade com o corpo, seja o próprio corpo, o corpo da natureza, o corpo do mundo. Como também pode apontar pro inferno, pra uma alimentação cada vez mais pesada e tóxica que gera desconforto constante, pras mais dores e desajustes corporais relacionados a falta de movimento físico, desequilíbrios emocionais relacionados à falta de autoconhecimento etc.
O convite pra encarar essa fase do processo de individuação que se relaciona à crescimento pessoal e a um papo bem profundo com a Dona Exausta, só pode ser vivída por cada uma de nós, à sua maneira, e, a partir de forças internas. A reposição é suporte, não solução final. Menopausa pede mudança: de hábitos, de comportamento, de entendimento. Pede movimento, pede estratégias pra cuidar do estresse e pede ainda um olhar amoroso e sábio sobre a própria jornada até aqui. Lamentar o passado ou mesmo quem se é, só vai piorar tudo. Então, terapia também pode ser um pedido da menopausa para que muitas mulheres nessa fase possam validar e acolher a mulher madura e interessante que se tornaram.
O grupo “Maturescência & Arteterapia” acontece toda 3ª quinta-feira do mês de 19h30 às 21h30, no Ateliê Umbigo de Eros. A cada encontro, um tema, uma atividade expressiva e um bom papo entre mulheres. Bora juntas?
Anasha Gelli
Grupo “Maturescência & Arteterapia”
Informações 61 98154 8023